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abril 2019

Revisão por Pares – Sobre as Estruturas e os Conteúdos

Ao longo da história da comunicação científica (pelo menos desde o século XVIII, quando a Royal Society nomeou um Committee of Papers), o processo de avaliação por pares foi fundamental na selecção de manuscritos para assegurar que reunissem um conjunto de critérios de qualidade. A prática da avaliação por pares, em que pese as limitações e múltiplas críticas, se manteve estável por longo tempo, até à introdução da Internet.

As possibilidades de comunicação online, junto com o movimento de Acesso Aberto primeiro, e agora da Ciência Aberta, fez surgir inúmeras ideias sobre como desenhar procedimentos de avaliação por pares mais eficientes, rápidos, confiáveis, sem distorção, superando as limitações económicas e de recursos humanos que são as críticas frequentes do sistema. Sobre este tema publicamos em meses recentes dois posts relacionados. Um que analisa ideias sobre como poderia ser a avaliação por pares dentro de 10 ou 15 anos, e outro sobre as mais de vinte visões diferentes que têm os editores e investigadores sobre as avaliações abertas.

Para efeito de ordenar a discussão do tema, é interessante analisar uma taxonomia das variantes da avaliação por pares tomada de um trabalho de Bo-Christer Björk. Observe que nesta taxonomia não são considerados aspectos clássicos da avaliação como o simples-cego ou duplo-cego, porque nenhuma das novas propostas importantes parecem incorporá-los.

O modelo que analisaremos, cujo exemplo são os “open access mega-journals” (OAMJs), realiza uma revisão mínima por parte do corpo editorial, e translada a etapa pós-publicação, o resto da avaliação, a cargo do público (também poderíamos considerá-lo como revisão parcial). É o modelo usado pela PLoS ONE, entre outros.

Nos periódicos convencionais o processo de avaliação ocorre antes da publicação e baseia-se num conjunto de critérios expressos de uma maneira ou outra nas “instruções aos revisores” disponíveis nos sites dos periódicos. No processo clássico de revisão por pares, estes critérios são constituídos por quatro elementos:

  1. Novidade e originalidade: o trabalho faz um avanço intelectual contribuindo de forma inovadora ao conhecimento, seja por novos métodos, novos resultados empíricos, ou novas interpretações teóricas.
  2. Significado e importância: o trabalho adiciona algo ao corpus do conhecimento, produzindo um impacto que melhora o entendimento ou a prática.
  3. Relevância: o tema está dentro do interesse dos leitores do periódico.
  4. Solidez e rigor (rigor técnico ou científico) que está relacionado com a precisão metodológica, coerência e integridade, qualidade da argumentação, lógica na interpretação dos dados.

As novas formas de publicação incorporam enfoques alternativos de avaliação e, como já mencionamos, uma destas formas são aquelas usadas pelas OAMJs, entre as que se destacam a PLoS ONE (a primeira do género) desde 2006, e Scientific Reports, lançado pela Nature em 2011. A estas duas iniciativas somam-se uma dezena de outras instituições, entre elas a American Institute of Physics (AIP Advances), BMJ Open, F1000 e PeerJ, cobrindo as ciências biológicas. Os dados que são aportados neste post foram retirados da literatura, em particular “Let the community decide? The vision and reality of soundness-only peer review in open-access mega-journals (2018)”, que é o estudo mais exaustivo até ao momento sobre os mega-journals, no qual foram entrevistados 31 editores seniores que representam 16 organizações editoriais que publicam OAMJs.

As OAMJs têm cinco características principais: grandes volumes de publicação, amplo alcance temático, modelo de publicação em acesso aberto, financiamento mediante Article Processing Charge (APC), e um enfoque inovador da avaliação por pares. O enfoque inovador requer que os editores e revisores somente avaliem a solidez e rigor técnico (a estrutura formal) e não levem em conta nem a originalidade nem a significância ou a relevância (ou seja, o conteúdo). Quer dizer, dos pontos anteriores, somente consideram o item 4, não levando em conta os primeiros três tópicos. A avaliação destes outros critérios translada “corrente abaixo” para que sejam julgados pela comunidade académica tão logo o artigo seja publicado. Os indicadores a nível de artigo (citações, downloads e altmetrias) serão as ferramentas usadas para a avaliação pós-publicação.

A separação dos três critérios de conteúdo da etapa de revisão tem sido altamente discutida na publicação científica com opiniões a favor e contra. Entre os argumentos a favor, está a ideia de que ao revisar somente a estrutura do artigo, estão alterando o papel tradicional de gatekeepers dos editores de periódicos. Os corpos editoriais e revisores já não são mais os únicos árbitros que decidem os limites dos paradigmas da disciplina. Além disso, este novo tipo de avaliação dá maior eficiência ao processo de publicação reduzindo o tempo da espiral de apresentação-rejeição que têm muitos artigos antes de conseguir ser publicados em algum periódico. Finalmente, também, poderia ser considerado uma “democratização” da ciência. Como disse Gary Ward, CEO da PLoS, “… se o artigo está bem escrito e as conclusões são coerentes, que seja a comunidade a decidir sobre o impacto”.

Os resultados do estudo que citamos sugerem que os critérios baseados somente na solidez formal e rigor do documento podem influir nas decisões editoriais e, de facto, o fazem. Porém, os editores também consideram que as avaliações pós-publicação sobre novidade, significância e relevância, todavia, contêm aspectos de interpretação problemática. Embora as medidas altmétricas para a avaliação pós-publicação de um artigo sejam partes integrantes do modelo OAMJ, os editores não estão seguros do quão efectivas são na prática. Em particular, os editores tiveram opiniões mistas sobre quais altmetrias poderiam servir para medir a importância ou significância de um artigo.

Há que reconhecer, pesando as diferentes críticas às limitações do processo actual de revisão por pares, as atitudes e comportamentos sobre este tema estão profundamente enraizados no DNA da comunidade científica e são difíceis de mudar.

Não obstante, o slogan “que a comunidade decida” é fortemente atractivo (inclusive politicamente correcto), e a intenção de implementar este paradigma, até ao momento, tem sido altamente controversa e permanece problemática.

 

Por: Ernesto Spinak - Colaborador SciELO, Engenheiro de Sistemas e Licenciado en Biblioteconomia, com diploma de Estudos Avançados pela Universitat Oberta de Catalunya e Mestre em “Sociedad de la Información” pela  Universidade Oberta de Catalunya, Barcelona – Espanha

 

Fonte: https://blog.scielo.org/blog/2018/05/30/revisao-por-pares-sobre-as-estruturas-e-os-conteudos/#.XLHL_y1OrYI

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Cientistas Estão a Usar o Pictionary para Ensinar "Senso Comum" à Inteligência Artificial (IA)

A inteligência artificial (IA) tem feito avanços incríveis na análise de dados para a busca de padrões ocultos, mas ainda não chega perto da capacidade humana em compreender um determinado contexto ou o senso comum. A impossibilidade da IA em compreender o senso comum é um dos principais obstáculos para o desenvolvimento de chatbots (programas informáticos de conversação automática) e assistentes de voz que sejam genuinamente úteis. Além disso, enquanto os programas de IA podem prejudicar os melhores jogadores humanos de muitos jogos, como o xadrez, o Go e (mais recentemente) o StarCraft, dominá-los oferece apenas uma pequena medida de IA. Para ajudar os algoritmos a aprenderem sobre o senso comum, o Allen Institute for Artificial Intelligence criou uma tarefa incomum: colocar algoritmos de aprendizagem automática a jogar o Pictionary, de modo a perceberem como o mundo funciona. 

Em que consiste o jogo? O jogo consiste em a máquina adivinhar que frase está por trás de um desenho. Pode ser um jogo frívolo depois do jantar, mas o Pictionary talvez pudesse dar aos programas de IA uma compreensão mais profunda de como os conceitos se encaixam no mundo real. Os Investigadores do Allen Institute for Artificial Intelligence acreditam que o Pictionary poderia impulsionar a inteligência das máquinas além dos seus limites actuais. Para esse fim, eles criaram uma versão online do jogo que junta um jogador humano com um programa de IA. Isso faz com que seja o veículo perfeito para ajudar a ensinar máquinas. A equipa desenvolveu uma versão online do jogo, chamada Iconary, que junta um utilizador e um programa de IA chamado Allen AI. Ambos podem apresentar-se como o artista e o adivinho. Jogando como artista, o utilizador recebe uma frase e depois esboça as coisas para as transmitir. Os esboços são primeiro transformados em ícones de clip art usando a visão computacional; então o programa de computador tenta adivinhar a frase a partir de um banco de dados de palavras e conceitos e de relação entre eles. Se o programa receber apenas parte da frase, ele pedirá que outra imagem seja esclarecida. Dando a frase “virando uma página”, por exemplo, um jogador pode tentar desenhar um livro, uma mão e uma seta curva. Nesse caso em particular, o programa Allen AI adivinha correctamente após apenas algumas tentativas.

O programa de IA recorre a uma combinação de técnicas de IA para desenhar e adivinhar. Com o tempo, jogando contra pessoas suficientes, a Allen AI deve aprender com o seu senso comum de como conceitos (como “livros” e “páginas”) andam juntos na vida quotidiana, diz Fahadi. Também ajudará os investigadores a explorar formas de os humanos e as máquinas se comunicarem e colaborarem de forma mais eficaz.

No total, existem 1200 ícones, 75 000 frases possíveis e um vocabulário de 20 000 palavras. E existem dois modos: fácil e difícil. O objectivo é criar um quadro de líderes para destacar o espírito competitivo das pessoas e ajudar a acelerar a aprendizagem da IA. Fahadi diz que Iconary é uma medida melhor de IA do que o Go ou o xadrez, porque requer uma inteligência muito mais ampla. “Os jogos têm sido uma plataforma de sucesso para testar IA”, diz ele, “mas a inteligência é mais do que correspondência de padrões”.

Eventualmente, afirma, poderia ser utilizado como um novo tipo de teste de Turing – os jogadores poderiam tentar adivinhar se o companheiro de equipa deles é humano ou uma máquina.

Mais informação, clique aqui.

 

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Programa de Bolsas de Estudo de Graduação e Pós-graduação "Learn Africa" para Mulheres Africanas

Estão abertas as candidaturas, até o dia 7 de Abril, para o Programa de Bolsas de Estudo de Graduação e Pós-graduação "Learn Africa" para mulheres africanas que queiram estudar em universidades espanholas e portuguesas.

Este programa é promovido pela Fundação Mulheres para África, e tem como objectivo promover a transferência de conhecimento, o intercâmbio e a formação de estudantes africanas de Graduação e Pós-graduação, através de bolsas de estudo em universidades espanholas e portuguesas que colaboram nesta iniciativa. As estudantes podem assim concluir a sua formação universitária noutro país e depois inverter o conhecimento adquirido para o benefício das suas comunidades, contribuindo para o progresso das sociedades africanas.

As bolsas são, maioritariamente, financiadas pelas universidades participantes do Programa - todas elas membros da Conferência de Reitores das Universidades Espanholas (CRUE), e cobrem as viagens de ida e volta, mensalidades e taxas académicas, acomodação, alimentação e seguro médico.

 

Duração das Bolsas

As bolsas têm duração variável, dependendo da modalidade acordada com cada uma das universidades anfitriãs e do programa de formação oferecido, compreendendo períodos que vão desde estadias curtas, como é o caso de alguns projectos de investigação, até estadias de quatro anos para as estudantes de Mestrado e Doutoramento. A maioria das bolsas oferecidas neste Programa são para o ano lectivo de 2019-2020.

 

Requisitos e documentos para as candidaturas

As candidatas devem estar matriculadas numa universidade africana ou ter um diploma de licenciatura emitido por um país africano (para candidatas à pós-graduação). As mesmas deverão submeter a sua candidatura online. Os documentos requeridos são os seguintes:

  • Fotocópia do Passaporte ou Bilhete de Identidade
  • 1 Foto
  • Currículo
  • Certificado ou Diploma de licenciatura ou mestrado
  • Histórico académico
  • Carta de motivação pessoal
  • Cartas de referência
  • Nível de Língua Requerido
  • Projecto de Investigação (necessário apenas no caso de bolsas de doutoramento)

 

Processo Selectivo e Resultados

O processo de selecção será coordenado pela Fundação Mulheres para a África e decorrerá de  8 e 30 de Abril

 

Para mais informações, visite: https://www.mujeresporafrica.es/en/content/2019-learn-africa-scholarship-program

 

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Fundação Calouste Gulbenkian Lança Concurso para Estágios Científicos Avançados em Matemática

A Fundação Calouste Gulbenkian lançou um concurso para estágios científicos avançados em Matemática, destinados a docentes e investigadores de instituições de ensino superior dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa.

O concurso tem como objectivo apoiar decentes e investigadores que queiram iniciar ou consolidar a actividade de investigação na área de Matemática. Os estágios serão realizados em instituições de ensino superior portuguesas e a duração varia entre 3 a 4 meses, devendo começar no 2.º semestre de 2019. As candidaturas estão abertas até 12 de Abril de 2019.

 

Para mais informação: https://gulbenkian.pt/grant/grant-estagios-cientificos-matematica-palop/

 

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2019 – Ano Internacional da Tabela Periódica (IYPT2019)

A Tabela Periódica dos Elementos Químicos, ou simplesmente Tabela Periódica, é uma das realizações mais significativas da ciência, captando a essência não só da química, mas também da física e da biologia. É um esquema que permite classificar e organizar os elementos químicos em função das suas propriedades e características. A história da Tabela Periódica está relacionada com o descobrimento dos diversos elementos químicos e com a necessidade de os ordenar de alguma forma. O químico alemão Julius Lothar Meyer (1830-1895) e o matemático russo Dmitri Mendeleiev (1834-1907) foram os primeiros especialistas a ter postulado as propriedades dos elementos a partir das funções periódicas da respectiva massa (a magnitude física que permite exprimir a quantidade de matéria contida num corpo) atómica. Após várias tentativas, em 1869, Mendeleiev foi quem conseguiu criar um sistema periódico com base na massa atómica (o Sistema Periódico dos Elementos Químicos). Passados 150 anos celebramos a criação da ferramenta que permite prever as propriedades da matéria na terra e no resto do Universo. 

Este ano, 2019, comemora-se o Ano Internacional da Tabela Periódica dos Elementos Químicos (IYPT2019). Uma resolução das Nações Unidas e da UNESCO para celebrar a criação de uma das ferramentas mais importantes na história da ciência. A iniciativa do IYPT2019 é apoiada pela IUPAC em parceria com a União Internacional de Física Pura e Aplicada (IUPAP), Associação Europeia para a Ciência Química e Molecular (EuCheMS), Conselho Internacional para a Ciência (ICSU), União Astronómica Internacional (IAU), e a União Internacional de História e Filosofia da Ciência e Tecnologia (IUHPS). Em todo o mundo, assiste-se a celebrações da data com a realização de eventos. Em África, destacam-se as actividades comemorativas da África do Sul, da Argélia, do Gana e da Zâmbia.

 

Para mais informação, clique aqui.

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